quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A Seca em Baldes

16/08/2012
Vivi um dia em Poldrinhos,
Na terra do Xaxado, de Lampião.
Vivi em contas gotas, aos pouquinhos,
Vida que não se vê na televisão.

O chão era seco de afeto
Por causa da água que não vem.
Meu coração, por hora, deserto,
Como milionário, sem um vintém.

Nem sempre Deus quis assim,
Conta os recentes relatos.
Água em canos havia sim,
Mas agora é um boato.

O desenvolvimento quebrou os canos
Trilhos que levam à capital.
Coisas para os metropolitanos
Que não cabem em um recital.

A vida seca não está no leitor,
Está no balde, providência transitória.
Braços fortes o carrega com ardor,
Carrega dor da medalha da vitória.

Choro seco, enfim, percebo:
A seca está no balde.
Sr. Manoel, mais um mancebo,
Como todos arrebalde.

Olhos, chão, mãos, racham.
O medo da vida em um tropeço.
Choro as lágrimas dos que acham
Que a distância não evita o apreço.

Na cama sertaneja sonho a chuva 
Caindo, molhando o chão.
Esse sonho cabe como uma luva
Na inocência urbana, não na do sertão.

Agradeço à vida
Em Poldrinhos ter me levado.
Acá fico com a ferida
E este meu frágil brado.

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